sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sugerindo...


Bem,

   No início desse ano ganhei um presente que me surpreendeu pela sua dinâmica e me fez descobrir certas coisas sobre um dos meus maiores ídolos da música popular brasileira que eu não esperava saber, de um jeito muito divertido e misterioso. A cada página lida me impressionava com a persistência e a fome do personagem alemão de conhecer João Gilberto, que por sua vez estrelou, mais uma vez, como o “Mistério do Planeta”.

   “Ho-ba-la-la – À Procura de João Gilberto”, de Marc Fischer, me empolgou tanto, que fiz algo inédito: devorei um livro em menos de dois dias, algo que pode parecer ridículo para alguns, mas pra mim foi uma grande novidade!

   A intenção de Marc Fischer é que João Gilberto toque, no seu violão centenário, a música homônima ao livro, Ho-ba-la-la, relatando, desde o começo até o final, a caçada, quase que insana, do ‘detetive’, ao incomparável intérprete, compositor e pilar da Bossa Nova, que ficou famoso, também, pelos mistérios que o circulam, pela reclusão do mundo e pela relação duradoura e doentia com seu violão, praticando incansavelmente seu repertório e sua técnica, fato que faz com que, em minha opinião, pareça que o instrumento faz parte dele, como um órgão vital.  

   O livro começa com Marc Fischer, Sherlock, como ele é chamado por Watson, que nesse enredo se mostra no corpo de Rachel, uma carioca que o auxilia nessa pesquisa, encontrando um apartamento em que João viveu no Leblon, onde ele ‘levantava-se quando os outros iam dormir e ia se deitar quando os outros estavam acordando, como um fantasma’. Descobre que João se mudou e então começa uma busca através das pessoas que rodeavam e rodeiam o compositor baiano, passando por Miucha, segunda esposa de João e irmã de Chico Buarque, pela extinta loja Modern Sound, Jorge Cravo, João Donato, Marcos Valle, a cantora Joyce, Claudia Faissol, que fez, recentemente, um documentário sobre o artista, Roberto Menescal, Garrincha, cozinheiro que preparava o suposto prato favorito de João - Steak no sal grosso, filé-mignon marinado num tempero de ervas, serfica com arroz e farofa -, entre outras pessoas que conviveram com ele.

   O livro é repleto de passagens interessantes sobre JG, umas hilárias, outras inexplicáveis, mas todas surpreendentes, pelo menos para mim, que não sabia que meu ídolo se comunicava mais por telefonemas que por qualquer outro meio de comunicação, base de duas passagens engraçadas. A primeira é que João, quando morava no hotel em que Garrincinha cozinhava para ele, ligava pro cozinheiro, perguntando como estava a família dele, inclusive querendo saber da saúde dos filhos, perguntando todo o cardápio da noite, para pedir o de sempre: Stick no sal grosso. A segunda é quando ele ligou para Marcos Valle, que nunca esteve pessoalmente com João, falando que o compositor não imaginava o quanto gostava dele e de seus trabalhos, dizendo que iria gravar todas as músicas dele, mas depois da conversa, nunca mais deu notícia, ou procurou Marcos Valle. Eu não fazia ideia que João Gilberto fumava maconha, muito menos que fazia isso com João Donato e que ele tinha uma preferência que também é a minha, aproveitar a acústica do banheiro para praticar seu repertório. O autor relata, também, uma estadia misteriosa do intérprete por Diamantina, que corria uma suspeita que ele foi pra lá para, meio que, se curar do estresse e outros distúrbios, mas chegando lá, Marc conhece algumas pessoas que conviveram com João e mostra outra versão para essa experiência do cantor.

  Enfim, “Ho-ba-la-la – à Procura de João Gilberto”, eu indico mil vezes se necessário, se quiser eu empresto, mas leiam! É incrível!


Aqui está o vídeo da música que encantou Marc Fischer:
http://www.youtube.com/watch?v=CUMHlLBMBuo

2 comentários:

  1. Coincidência ou qualquer outra coisa, eu e Arthur estamos fazendo uma dinâmica literária com uma obra do Carlos Calado - Tropicália - A história de uma revolução musical - que me remete muito a sua dica. Fala muito do João Gilberto, o que não poderia deixar de lado pois é um puta influenciador e encantador de músicos, digamos assim, foi só ele tocar na rádio pra mudar a vida desses meninos baianos que a gente chama de Caetano, Gilberto, Tom Zé e vários outros... Passando até pelos Novos Baianos, esse homem veio ao mundo pra "fazê-los" musicalmente, graças a Deus! Vou fazer de sua dica o próximo passo da minha lista.
    Adoro João e tudo que com ele veio, só não pago 400 paus pra vê-lo atrasar mais de duas horas no Teatro Castro Alves... Mas enfim, ele é o cara.

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  2. Caramba!!

    Vi uma intimidade invejável com o célebre compositor JG. Isto demonstra o seu bom gosto musical e a sua independencia artistica, sem deixar de demonstrar sua reverência e admiração ao artista. Parabéns pela materia Rafael,muito boa mesmo!

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